A quaresma

A quaresma, período de “suaves tristezas”, encerra para todo católico um profundo ensinamento, pois dela se serve a Igreja, como mãe solícita, para reavivar em seus filhos a abnegação, o senso do sofrimento heróico, o espírito de renúncia à trivialidade quotidiana e o inteiro devotamento a ideais dignos de darem um sentido mais alto à vida humana. O único sentido que esta tem: o sentido cristão.”

O Divino Mestre foi, Ele próprio, perfeito modelo dessa aceitação confiante e resignada da dor como companheira necessária do homem neste “vale de lágrimas”: No Horto das Oliveiras antes de padecer em seu Corpo as atrozes injúrias dos flagelos, espinhos e cravos, Jesus previu todos os tormentos físicos e morais que O aguardavam, e se curvou à suprema vontade do Pai.

Sabia Ele que ali iniciava sua Paixão, e mediu todas as ingratidões, maldades, friezas e perversidades de que seria objeto ao longo daquele caminho. Conheceu as dores de sua Mãe, Co-redentora, unida ao Filho no imenso holocausto. Foi-Lhe dado ver os atos de virtude e os pecados de todos os homens; e se previu desfigurado de todas as maneiras possíveis por aquela maldade que O agredirá. Na visão profética mais grandiosa e sinistra da História, Ele começa a se impressionar, a sentir pavor e uma tristeza mortal que se convertem no suor de sangue a Lhe banhar a divina face. Porém, de seus lábios santíssimos brota como uma flor esta oração de doçura insondável: “Meu Pai, se for possível afaste-se de mim este cálice; mas, faça-se em Mim a tua vontade”. Ele é confortado por um anjo, recompõem-se e se ergue, pronto para o sacrifício...

Não era este, entretanto, um sacrifício estéril e vão. Os padecimentos do Salvador resgatariam para todo o sempre o gênero humano, franqueando-nos novamente as portas do Céu e a felicidade da bem-aventurança eterna. Per crucem ad lucem: pela cruz se chega à luz.
Por isso, a Santa Igreja, depois de nos ensinar a grande missão austera do sofrimento, se serve das alegrias vibrantes e castíssimas da Páscoa para fazer brilhar aos nossos olhos a luz da esperança cristã, abrindo diante de nós os horizontes serenos que a virtude da confiança põe diante de todos os verdadeiros filhos de Deus. Ela faz reluzir à nossa vista, mesmo nas tristezas da situação contemporânea, a certeza triunfal de que Deus é o supremo Senhor de todas as coisas, de que seu Cristo é o Rei da glória, que venceu a morte e esmagou o demônio, de que a sua Igreja é rainha de imensa majestade, capaz de se reerguer de todos os escombros, de dissipar todas as trevas, e de brilhar com mais luzidio triunfo, no momento preciso em que parecia aguardá-la a mais terrível, a mais irremediável das derrotas.

Esse é o grande consolo para os homens retos que amam acima de tudo a Igreja de Deus: Cristo morreu e ressuscitou. A Igreja imortal ressurge de suas provações, gloriosa como Cristo, na radiosa aurora de sua Ressurreição.

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