Leve ao menos esta lembrança...
Alegres e despreocupados, Pedro
e Maurício, dois meninos de sete anos, voltam da escola pelos caminhos de uma
aldeia do interior da Bélgica em fins do século XIX. Passando por uma ponte
sobre o rio Meuse que circunda o vilarejo, olham para suas imagens refletidas
nas águas e atiram algumas pedras para ver quem conseguia “acertar” o outro.
Seguindo adiante, continuam sua brincadeira. De repente, Pedro se aproxima
demais do barranco, resvala e cai no rio.
— Socorro! Socorro! — gritava,
na margem, Maurício.
— Socorro! — bradava Pedro, que
a custo conseguia manter a cabeça fora da água.
Entretanto, o povoado estava um
pouco distante, seus gritos infantis não chegavam até lá. O socorro lhes veio
de onde ninguém esperava: um mendigo que descansava embaixo da ponte atirou-se
ao rio sem perda de tempo e logo retornou trazendo o menino são e salvo. Depois
de acalmar as duas crianças, decidiu acompanhá-las até a aldeia.
Imagine-se o susto da mãe ao
ver chegar seu filho, todo molhado, nos braços de um desconhecido maltrapilho.
Posta a par do que havia acontecido, agasalhou com todo carinho o filho e logo
se voltou para seu benfeitor:
— Como poderei agradecer-lhe,
senhor? Sou pobre também, mas quero mostrar-lhe minha gratidão.
— Não se preocupe, senhora. Dê
graças ao bom Deus, como dizia minha mãe, por neste dia eu estar descansando
debaixo daquela ponte.
— Por favor, gostaria tanto de dar-lhe
alguma coisa!
— Bom, já que insiste tanto, um
prato de comida não me faria mal, pois há muito tempo não como algo quente.
Transbordante de gratidão,
preparou ela para o mendigo o melhor almoço que pôde. Quando este, depois de
larga conversa, estava por sair, ela tirou do pescoço do filho uma corrente
prateada com a Medalha Milagrosa e lhe disse:
— Meu senhor, leve ao menos
esta lembrança. Certa estou de que foi Nossa Senhora quem dispôs tudo, pois
todos os dias peço a Ela que proteja meu filho. Tenha sempre esta medalha no
pescoço, eu lhe peço. Este é o maior bem que lhe posso fazer.
O andarilho pouco tinha de
piedoso, mas ficou comovido com a fé e o zelo maternal daquela mulher, pois
esta lhe trouxe à lembrança a doce fisionomia de outra senhora, que há muitos
anos ele não via, e que o carregou nos braços quando criança e também o
recomendava diariamente à Mãezinha do Céu... Tomou, pois, a medalha, pôs no
pescoço, despediu-se e nunca mais foi visto naquela aldeia.
* * *
Pedro cresceu e, sendo já um
jovem vigoroso, ouviu o chamado de Jesus para abandonar todos os bens desta
terra e decidiu ser missionário. Cerca de 20 anos depois do episódio narrado
acima, ei-lo sacerdote, designado pelos superiores para atender os doentes
pobres num hospital das Irmãs de Caridade, no interior da França.
Cruzou ele pela primeira vez os
amenos jardins daquela casa religiosa e foi apresentar-se à Madre Superiora.
Esta o cumprimentou com respeito e lhe disse:
— Padre, como é providencial
sua chegada! Estamos com um enfermo em estado terminal e em sério risco de
morrer impenitente. Por favor, veja logo o que é possível fazer por ele!
O jovem padre dirigiu-se à
capela, rogando a Jesus Eucarístico que lhe inspirasse palavras adequadas para
tocar aquele coração endurecido. Voltou os olhos para uma imagem da Virgem e
implorou-lhe com toda confiança: “Refúgio dos Pecadores, rogai por ele!”
Com passo sereno, entrou na
enfermaria, onde o doente lhe deu a pior acolhida possível:
— Fora daqui! Não quero nada
com padres. Fique do lado de fora, você com seus santos!
Disposto a tudo fazer para
salvar aquela alma, Pe. Pedro não se deixou abalar por esse rugido de
impiedade. Notando que o ímpio falava com um sotaque pouco comum na região, aproveitou-se
do fato para entabular uma conversa.
— Ora veja! Você não é francês,
não é verdade? Você parece ser... belga. Acertei?
— Sim, e como sabe?
— Pelo seu sotaque. Há quanto
tempo está aqui?
Com isso foi se aproximando da
cama do enfermo. Mostrando-lhe um sorriso nos lábios e um rosto radiante de
bondade, prosseguiu:
— Sabe, sou belga também, da
região do vale do rio Meuse, e brinquei muito às suas margens. E você, de onde
é?
O doente mostrava-se aliviado
em poder conversar um pouco com um conterrâneo. Procurando ser amável ao
máximo, o sacerdote conduziu aos poucos a conversa para assuntos religiosos e,
discretamente, tirou a estola da maleta.
Vendo isso, o intratável
enfermo descarregou sobre ele um novo surto de imprecações, enquanto procurava
erguer-se em seu leito. Ao fazer esse movimento, deixou aparecer sobre seu
peito desnudo uma corrente prateada da qual pendia uma Medalha Milagrosa.
O Pe. Pedro reconheceu-a
imediatamente! Ocultando a forte emoção que sentia, perguntou:
— Diga-me, quem lhe deu essa
medalha?
Como resposta, ouviu do infeliz
ateu a história de como ele, cerca de 20 anos antes, a ganhara de presente da
mãe de um menino que ele havia salvado das águas do rio.
Sem conter alguns soluços, disse-lhe
o sacerdote:
— Sou eu esse menino! Estive
sempre à procura daquele mendigo. Por ele rezei todos os dias. Desde que sou
padre, lembro-me dele em todas as minhas Missas. E agora o encontro aqui! Veja
bem, meu amigo e benfeitor, isto é uma prova de quanto Nossa Senhora lhe quer
bem. Assim como Ela, há 20 anos, encaminhou você para aquela ponte a fim de me
salvar a vida, agora Ela mesma me traz aqui, como sacerdote de Cristo, para
salvar sua alma.
Tocado pela graça, o mendigo
derramou muitas lágrimas de arrependimento. Depois de uma sincera confissão de
toda a sua longa vida de pecados, recebeu a Unção dos Enfermos, depois o Santo
Viático, e expirou serenamente na paz do Senhor.
Comentários
ola é a Maria fernanda de Cuiabá queria saber se ira haver congresso este ano manda um comentário como resposta obrigado
In Jesus et Maria