A flor da sinceridade
No centro juvenil dos Arautos do Evangelho as peças teatrais,
além de desenvolver a linguagem e a expressividade, visam despertar a atenção e
o interesse para a prática das virtudes de um modo atraente. Narraremos, a
seguir, a história de uma delas com algumas fotos.
A flor da
sinceridade
Irmã Lucía Ordoñez
Cebolla,EP
Conta-se que esta bela história aconteceu há muitos e muitos
anos em Nanquim, uma milenar cidade chinesa situada aos pés da Montanha Púrpura
e circundada pelo rio Azul, o famoso Yang-Tsé.
Vivia ali uma menina muito inteligente e vivaz chamada Lin Ling.
Sua família havia sido convertida por um sacerdote jesuíta e fazia parte da
pequena comunidade católica chinesa daquela época. Logo que a criança veio ao
mundo, seus pais a batizaram e incutiram-lhe, desde a mais tenra idade, o amor
à verdade, à beleza e ao bem.
Jamais Lin Ling havia dito uma mentira. Gostava de admirar as
belas paisagens da cidade, sobretudo ao entardecer, em que o sol pintava de
dourado, vermelho e lilás o céu tão azul de Nanquim. Muitos elogiavam sua
singular inteligência, mas ela não prestava atenção. Sabia que este era apenas
um dom que Deus lhe havia dado para servi-Lo, e o que mais ele queria era ser
uma menina boa.
Ao completar nove anos, fez sua Primeira Comunhão com muito
entusiasmo, juntamente com outras companheirinhas. A festa havia sido
inesquecível, mas o que mais lhe havia marcado era sentir a presença do próprio
Deus vivo em seu inocente coração.
Encantava-lhe a natureza e dedicava-se com esmero à
jardinagem. As flores eram suas preferidas. Todas as que ela plantava nasciam
com muito viço e formosura, pois conhecia os segredos desta bela arte e
exercia-a com muito amor, ciente de que na natureza se reflete a beleza de
Deus.
Naquele tempo, a imperatriz chinesa estava ficando idosa e
tinha um grave problema: não possuía herdeiro. Morreria sem deixar
descendência? À medida que passavam os anos, mais ela se preocupava: quem seria
sua sucessora?
Um dia de primavera, veio ela a Nanquim para visitar o
Xiaoling, o famoso túmulo de seus antepassados. Passeando pelos imensos bosques
e jardins que rodeiam a grandiosa construção, teve uma brilhante ideia para
resolver seu problema de sucessão: iria organizar entre todas as crianças do
império um concurso de flores.
Mandou um aviso a cada um dos recantos de seu território
convocando todas as crianças para comparecer em seu palácio, e as recebeu em um
de seus jardins, tão belamente cuidado que cada vegetal parecia uma jóia. Lá,
cada uma das participantes recebeu uma semente junto com o encargo de fazê-la
germinar e cuidá-la durante um ano. Na primavera seguinte, deveriam
apresentar-se no palácio levando as plantas que delas nasceram. Aquela que
tiver conseguido a mais bela flor tornar-se-ia a herdeira do trono. Todas as
crianças ficaram eufóricas, cada uma já sonhando com um belo palácio,
magníficas roupas, excelentes comidas, tudo o que imaginavam da deliciosa vida
de imperador.
Lin Ling tinha certeza de que, ao ano seguinte, conseguiria
levar ao palácio algo muito especial. Com todo cuidado plantou sua sementinha e
a cada manhã a regava. Passaram-se vários dias... e nada! Passou um mês... e
nada! Chegou o outono... e nada! Transferiu-a para outro vaso e redobrou os
cuidados, mas a semente continuava sem germinar.
Passou o inverno e outra vez chegou a primavera. Lin Ling só
tinha um vaso cheio de terra, sem nenhuma flor. Não entendia o que estava
acontecendo e não sabia o que fazer!
Afinal, chegou o grande dia de se apresentar à imperatriz.
Todas as crianças se engalanaram para visitar o palácio, levando suas
magníficas flores. Só Lin Ling estava com as mãos vazias! Pôs-se, então, a
chorar!
Seu pai, porém, lhe aconselhou:
— Minha filha, você fez o melhor que pôde durante todos esses
meses, e não obteve mais que isso: um vaso cheio de terra. Vá até a imperatriz
e conte-lhe o acontecido. Se rirem de você, não se incomode, mais vale dizer a
verdade do que inventar uma mentira qualquer para evitar uma caçoada.
A menina partiu em direção ao palácio. Chegando lá, Lin Ling
encontrou-se com centenas de crianças conduzindo as plantas mais exuberantes e
exóticas, como bromélias, orquídeas e “aves do paraíso”, até as mais singelas
azaleias e violetas. Todos os vasos continham, pelo menos, uma flor. Só o
portado por Lin Ling estava vazio! Os olhares das crianças caíam sobre ela e os
risos e cochichos se faziam ouvir.
A soberana olhava atenta as inumeráveis flores de rara
beleza. Mas seus olhos buscavam algo que parecia não encontrar... De repente,
avistou a menina com o vaso vazio e o chamou a si. Indagou-lhe o motivo de seu
insucesso.
Lin Ling, com toda candura e sinceridade, narrou à imperatriz
todos os cuidados que tivera com sua sementinha, como a havia regado, afofado a
terra, trocando-a de vaso, posto ao sol, mas nada havia brotado dela.
Desapontada, a menina terminou dizendo que havia feito o melhor que pudera, mas
pedia perdão à imperatriz por nada ter conseguido.
A imperatriz, sorrindo, declarou solenemente:
— Afinal encontrei a herdeira do trono!
Lin Ling estava perplexa e as outras crianças também. Mas a imperatriz
continuou:
— Não sei o que vocês fizeram para conseguirem flores tão
belas, exóticas e exuberantes... Lin Ling foi a única honesta! Todas as
sementes que distribuí haviam sido cozidas anteriormente, portanto de nenhuma
poderiam haver germinado. Lin Ling foi a única que não se envergonhou de dizer
a verdade, embora sofresse o ridículo diante de todos. Sua honestidade deve ser
premiada. Declaro que ela será a futura imperatriz, pois venceu o concurso,
trazendo-me a mais bela flor entre todas as que aqui se encontram: a flor da
sinceridade.
(Texto adaptado da Revista
Arautos do Evangelho nº98)
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