O maravilhoso mundo dos anjos

Pe. Carlos Alberto Soares Corrêa, EP
São dez horas da noite. Na silenciosa Roma — estamos no século XIV — uma distinta dama reza na capela de seu palácio. Algumas poucas velas iluminam o recinto sagrado. De repente, uma forte luz toma conta do ambiente como se fosse meio-dia. A nobre senhora eleva seus olhos e contempla a face resplandecente de seu filho João Batista, falecido há alguns meses.
Meu filho, de onde vens?
Venho da Corte Celeste, onde tenho a ventura de sempre contemplar a face indizivelmente bela de nosso Criador. Esta é a maior felicidade dos bem-aventurados, meus companheiros eternos de glória!
E quem é esse varão que te acompanha?
Minha mãe, este é um anjo que pertence ao oitavo coro angélico, o coro dos Arcanjos, acima dos Anjos da Guarda, que formam o nono coro angélico. Como vês, é muito mais belo do que eu, pois está mais próximo de Deus. O Divino Redentor envia este celeste protetor para que, a partir de hoje, te acompanhe e proteja dia e noite.
Santa Francisca Romana — pois é dela que se trata — estava inundada de indizível felicidade. A partir dessa memorável noite, gozou da visão ininterrupta de seu Arcanjo protetor. Mas era tão resplandecente a beleza do celeste mensageiro, que ele tinha de graduar sua luz para que a santa pudesse fitar sua face. Com efeito, conforme afirmam os inúmeros santos que receberam a graça de ver algum anjo, o brilho deles é superior ao do sol.
Santa Francisca Romana — pois é dela que se trata — estava inundada de indizível felicidade. A partir dessa memorável noite, gozou da visão ininterrupta de seu Arcanjo protetor. Mas era tão resplandecente a beleza do celeste mensageiro, que ele tinha de graduar sua luz para que a santa pudesse fitar sua face. Com efeito, conforme afirmam os inúmeros santos que receberam a graça de ver algum anjo, o brilho deles é superior ao do sol.
A existência dos anjos, uma verdade de fé
Claro está que a visão, neste mundo, das criaturas angélicas é um excepcional privilégio. Mas muito consoladora é a doutrina católica a respeito dos anjos.
Em primeiro lugar, a existência deles é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a esse respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição, como o afirma o Catecismo da Igreja Católica.
Grandes comentadores das Sagradas Escrituras, como São Jerônimo e São Tomás de Aquino, afirmam que toda criança, no momento de seu nascimento, recebe de Deus um Anjo da Guarda. “Desde o início até a morte, a vida humana é cercada por sua proteção e por sua intercessão”, ensina o Catecismo (nº 336). “Cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida”, escreve São Basílio (apud CIC, 336). E não são apenas as crianças batizadas que recebem um anjo custódio, mas todo recém-nascido.
A Providência Divina, que tudo governa com grande misericórdia, concede igualmente aos grupos humanos um anjo protetor. As famílias, as cidades, as províncias e as nações, na opinião da grande maioria dos teólogos, recebem também do Criador um Anjo da Guarda.
Sempre ao nosso lado
Não são raros os casos de anjos que apareceram para livrar seus protegidos de grandes perigos, ou simplesmente para aliviar-lhes os sofrimentos.
Santa Gema Galgani, falecida aos 25 anos em 1903, via freqüentemente o seu Anjo da Guarda. Na sua infância, certa noite estava ela tão triste que não conseguia dormir. Apareceulhe então o anjo, pôs-lhe a mão na testa e lhe disse: “Dorme, pobre criança”. Ditas com tanta ternura, essas simples palavras restituíram a paz à menina, que adormeceu suavemente. Quando moça, permaneceu, um dia, até muito tarde rezando numa igreja. Ao sair do templo, viu o bom anjo que a acompanhou até sua casa.
São Policarpo, discípulo de São João Evangelista, viajava para Esmirna, cidade da qual era bispo. Teve de pernoitar numa hospedaria, juntamente com um companheiro. Na calada da noite, foi o santo bispo despertado por uma misteriosa voz, que lhe dizia que a casa ia desmoronar. Policarpo levantou-se, acordou seu companheiro, mas esse se recusou a sair. Apareceu então visivelmente o Anjo da Guarda de São Policarpo, ordenando aos dois viajantes que saíssem imediatamente da hospedaria. Mal saíram os dois, desabou a casa com grande estrondo.
Nosso Anjo da Guarda, embora de forma invisível, está tão real e verdadeiramente ao nosso lado como o de Santa Francisca Romana ou o de Santa Gema Galgani. Ele leva nossas orações até o trono de Deus. É uma trombeta celeste que amplia o som de nossas preces, purifica-as, torna-as mais belas, mais agradáveis a Deus.
A Sagrada Escritura descreve a comovedora história do jovem Tobias, que precisou fazer uma longa e perigosa viagem, para atender os desejos de seu velho pai, que estava cego. Logo no início da caminhada enviou-lhe Deus um anjo, disfarçado sob a forma de um esbelto moço. Foi um abnegado companheiro de Tobias, livrando-o de inúmeros perigos e ciladas. Retornou com ele à casa do venerando pai, e curou-o da cegueira. Ante a admiração maravilhada da família, revelou o fiel amigo de Tobias que seu nome era Rafael, um dos mais elevados anjos da corte celeste, e explicou porque Deus o mandara socorrer Tobit, pai do jovem: “Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa durante o dia, para sepultá-los quando viesse a noite, eu apresentava as tuas orações ao Senhor. Mas porque eras agradável ao Senhor, foi preciso que a tentação te provasse. Agora o Senhor enviou-me para curar-te” (Tb 12, 1214)
O Universo repleto de anjos
O Profeta Daniel, o Evangelista São João e o Apóstolo São Paulo, referindo-se ao número dos anjos criados por Deus, falam de milhões e milhões, das miríades e miríades de anjos que eles contemplaram no céu.
Com belíssimas palavras descreve o Profeta Davi, em seus Salmos, a solicitude cheia de ternura com que os anjos nos protegem: “Escolheste por asilo o Altíssimo. Nenhum mal te atingirá, porque aos seus anjos Ele ordenou que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão em suas mãos, para que teus pés não tropecem em alguma pedra” (Sl 90, 11-12).
Ensina-nos o grande Doutor da Igreja, Santo Ambrósio de Milão, que “tudo está repleto de anjos: o ar, a terra, o mar e as igrejas a eles sujeitas”.
Milhões deles permanecem constantemente na Corte Celeste. Outros receberam de Deus a missão de velar pela admirável ordem do universo: é graças à sua sábia intervenção que o Sol, a Lua, as estrelas e os rios seguem maravilhosamente os seus cursos.
Recordemos, por fim, o que sucedeu ao seráfico São Francisco de Assis. Seu Anjo da Guarda fê-lo ouvir, embora durante apenas dois minutos, um trecho de uma das incontáveis melodias que se entoam continuamente na Corte Celeste. O Santo ficou inebriado de tal felicidade que confidenciou a seus irmãos de vocação: “Estou disposto a jejuar durante mil anos, para experimentar novamente em minha alma aquela felicidade, impossível de ser descrita com a linguagem desta terra.” 
  Revista Arautos do Evangelho n.14 fevereiro 2003

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Presente de Maria para os homens