O Céu não se obtém por esforços humanos
Estamos
habituados a conferir o título de filho de Deus a qualquer pessoa a ponto de
constituir, talvez, uma certa ofensa em negá-lo a quem quer que seja. Mas esta
atitude não passa de um profundo equívoco, pois os não-batizados são puras
criaturas, e não filhos de Deus. Da mesma forma que não posso afirmar serem os
móveis filhos do marceneiro que os produziu, pois dele não receberam a natureza
humana, assim também não se pode dar o título de filho de Deus a uma pessoa que
não participa da natureza divina.
Pois,
para ser filho, necessita-se ter a mesma natureza do pai; por isso os filhos
dos coelhos chamam-se coelhos, e os dos homens são homens. E os filhos de Deus
devem ser “deuses” como Ele o é.
Ademais,
as capacidades de toda criatura sempre estão em proporção de sua respectiva
natureza. Por exemplo, o colibri tem as aptidões que lhe são próprias, e
ignorância consumada seria dar-lhe para resolver um problema de álgebra ou de
simples aritmética. Assim também, são puramente humanas as forças do homem,
nunca divinas.
Ora,
o prêmio deve estar proporcionado aos predicados de quem o mereceu. Jamais
seria adequado conceder a um corcel, por sua agilidade e capacidade físicas, um
prêmio intelectual, pois, não só ele não o entenderia, como seria um verdadeiro
absurdo. Da mesma forma, todos os prêmios conquistáveis pelo homem, devido à
sua natureza própria, nunca poderiam ser divinos, são sempre puramente humanos.
Esta
é a razão pela qual o Céu não se obtém pelos esforços, nem sequer da natureza
angélica. Por mais que nos fosse dado praticar todos os Mandamentos da Lei de
Deus, jamais poderíamos, por nós mesmos, entrar no Céu, pois, a essência deste
consiste em ver Deus face a face, e só as três Pessoas da Santíssima Trindade
possuem esse privilégio desde toda eternidade e por toda eternidade.
É
justamente no Presépio que se encontra representado o retorno da vida sobrenatural
para nós. Ali está Quem não só nos abriu as portas do Céu, mas também nos
elevou à categoria de filhos de Deus.1
1 CLÁ DIAS, João Scognamiglio.
Eternidade feliz. In: Arautos do
Evangelho. São Paulo, n. 36, dez. 2004. p. 8.
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