O banquete do Menino Jesus
Conta-se que frei
Bernardo de Morlat era um virtuoso religioso de um convento próximo a Santarém,
em Portugal. Um de seus amigos, um bom camponês da região, havia lhe pedido o
favor de, por caridade, ensinar as letras aos seus dois filhos, meninos piedosos
e obedientes.
O frade houve por bem
atender a solicitação e, deste então, os pequenos saíam todas as manhãs bem
cedinho para o convento, levando consigo sua provisão de alimentos. Lá passavam
o dia estudando e ajudando nas Missas. E à tardinha voltavam para casa.
Certa ocasião, com
uma familiaridade toda infantil, sentaram-se para tomar seu lanche aos pés de
uma imagem de Nossa Senhora, a qual trazia ao colo o Menino Jesus. Com a mesma
candura, comentaram entre si não ser muito gentil comerem sua refeição sem
convidarem a outra Criança ali presente. Esta, milagrosamente, aceitou o
convite de almas tão inocentes e, descendo do colo de Sua Mãe, foi comer com
Seus amiguinhos.
A partir então, todas
as manhãs, o Divino Infante descia para lanchar com os dois irmãos, até se
tornar desnecessário chamá-Lo. Mal os pequenos abriam a sacolinha com os
alimentos, o Menino Jesus lá estava entre eles. Ficaram amigos a ponto de não
só comerem juntos, mas, além disso, também conversarem e brincarem. E o bondoso
Jesus até os ajudava nas dificuldades dos estudos.
Só uma coisa
intrigava os dois inocentes: aquele Menino nunca trazia Sua quota de comida,
enquanto eles eram obrigados a conseguir mais alimentos, embora seus pais
fossem muito pobres.
— Então, não haverá
muitas coisas boas no Paraíso para Ele trazer? — perguntavam-se.
Decidiram contar tudo
a frei Bernardo que, após examinar bem o caso, ficou profundamente tocado por
tão grande prodígio. Rogou a Deus para iluminá-lo, e o fazer conhecer Seus
desígnios sobre os pequenos. Então lhes sugeriu:
— Não lhes agradaria
se o Menino Jesus os convidasse, ao menos uma vez, à casa de Seu Pai?
— Oh, sim!
Gostaríamos muito! Mas Ele nunca nos falou sobre isso — responderam.
O bondoso frade lhes
explicou:
— Na verdade, Ele
gosta quando Lhe pedem. Se Jesus continuar não trazendo nenhuma provisão, façam-Lhe
esse pedido. Se Ele os atender, receberão mil vezes mais do que Lhe deram.
E continuando a
explicação, frei Bernardo falou-lhes a respeito das magnificências e delícias
do palácio do Padre Eterno, e concluiu:
— Quando o Senhor
vier novamente comer com vocês, não se esqueçam de pedir para serem convidados.
Mas digam a Ele o quanto quero eu também participar.
Na segunda-feira
seguinte, o Menino Jesus desceu de novo para tomar o lanche com seus dois
companheiros. Terminada a refeição, antes de Ele pôr o pé sobre o pedestal de
pedra, para subir aos braços de Nossa Senhora, os dois jovens expressaram
timidamente seu desejo:
— Não nos convidais,
pelo menos uma vez?
Jesus fez um sinal de
afirmação, enquanto as crianças acrescentavam:
— E nosso mestre
também gostaria de participar da festa.
Jesus, então, lhes
disse:
— Dentro de três dias
será a solenidade da Ascensão. Haverá um grande banquete na casa de meu Pai. Dizei
a frei Bernardo que eu os convido à minha mesa, onde participareis da alegria
com os Anjos e com os santos.
Contentíssimos, os
dois correram para comunicar a boa notícia!
Ao regressarem para
sua casa, avisaram aos pais de que em três dias iriam participar de um banquete
no Céu. Frei Bernardo comunicou o mesmo ao seu superior. Durante os três dias,
mestre e discípulos permaneceram em oração, junto ao altar da Virgem. O frade
explicou aos meninos o sentido do convite de Jesus e eles, abrasados de amor,
não queriam outra coisa senão deixar este mundo e entrar sem tardança na Pátria
Celeste.
Chegou o dia da
Ascensão. Todas as Missas já haviam sido celebradas na aldeia. Enquanto os
frades estavam no refeitório, frei Bernardo dirigiu-se ao altar de Nossa Senhora,
acompanhado de seus acólitos, e começou a celebração da Santa Eucaristia. Os
dois discípulos receberam com grandíssima devoção, pela primeira vez, o Pão
Eucarístico. Na hora da ação de graças, os três se ajoelharam nos degraus do
altar, aguardando com confiança o momento da partida para a morada celeste.
Mais tarde, quando os
religiosos entraram na igreja para recitar as orações após a refeição,
encontraram Frei Bernardo e os dois acólitos imóveis, com as mãos levantadas ao
céu e os olhos fixos no Menino Jesus. Aproximaram-se deles e — Oh! Momento
precioso! — constataram já haverem eles trocado a vida terrena pela
bem-aventurança eterna.
Os seus corpos foram
sepultados ao pé do altar do Rosário. Muitos anos depois, quando foram abertos
os túmulos para trasladação dos restos mortais, estes exalavam um delicioso
perfume, quiçá derradeiro resquício daquele longínquo dia no qual, felizes,
entraram para o celestial banquete do Padre Eterno...
Ir Elen Coelho, EP Revista Arautos ago 2008
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