Meia hora menos...

A família de Gustavo era simples, mas muito religiosa. Desde bem pequenino, todas as manhãs, a avó, dona Esmeralda, o levava à Missa, e o menino se encantava com os acordes do órgão, com a luz do Sol entrando pelos vitrais, colorindo as paredes da igrejinha antiga de seu povoado e, sobretudo, com a sonora sineta que tocava durante a consagração. Impressionava-lhe ver aquela nave cheia de homens e mulheres que se ajoelhavam para adorar a Hóstia Consagrada, enquanto a vovó sussurrava-lhe cheia de fé:


— Veja, Gustavinho, ali está Jesus!
Terminada a Celebração Eucarística, antes de voltarem para o lar, a boa senhora tomava o neto pela mão e levava-o para visitar Maria Santíssima no altar lateral, onde se encontrava uma bela imagem da Virgem do Carmo.
À noite, o pai chegava em casa cansado do trabalho. Contudo, depois de jantar e rezar o Rosário em família, colocava o pequeno em seu colo e lhe contava muitas histórias dos santos e de Nossa Senhora com o Menino Jesus. E a mãe, ao dar-lhe o beijo de “boa noite” antes de dormir, nunca deixava de encomendá-lo ao Anjo da Guarda.
Assim foi crescendo Gustavo, cheio de piedade e inocência. Por sua precocidade, logo entrou para o Catecismo da paróquia e fez a Primeira Comunhão antes mesmo da idade regulamentar, por uma concessão especial do padre Nicolau. O menino sonhava poder receber em seu peito aquele Jesus escondido sob as espécies eucarísticas que adorava desde o começo de seu uso da razão.
Sendo muito inteligente, Gustavo brilhava nos estudos. Era o primeiro da classe. Obediente e responsável, aprendia tudo com rapidez. Tão encantados estavam seus professores, que um deles, o de ciências naturais, resolveu interessar-se pessoalmente pelo futuro acadêmico do aluno. Estando o jovem na idade de cursar as séries mais avançadas, foi o mestre visitar seu humilde lar, e dirigindo-se ao pai, disse-lhe:
— Senhor Norberto, vim aqui falar do amanhã de seu filho.
— Pois não — respondeu o progenitor, um tanto intrigado...
O professor Raimundo então expôs seu plano: oferecia a oportunidade de levar o menino para a capital, onde viveria com seu irmão, que tinha um filho da mesma idade de Gustavo. Ali poderia frequentar a Escola Modelo até chegar o momento de entrar na Universidade para fazer o curso superior, que seria financiado por meio de uma bolsa de estudos. E pelo pendor que notava no dedicado aluno, seguramente se tornaria um grande médico.
Fixando o filho, o senhor Norberto encontrou dois olhinhos brilhantes de ilusão diante daquele plano de futuro tão promissor.
— Professor Raimundo — disse o pai — se Gustavo quiser eu autorizo, mas com a condição de que ele nunca deixe de ir à Missa e frequentar os Sacramentos. Os homens podem fazer quantos planos quiserem para suas vidas, mas sem a bênção de Deus nada chega a bom termo.
— Não se preocupe, senhor Norberto. Meu irmão e minha cunhada são católicos fervorosos. Gustavo estará em muito boas mãos.
Foi preparada a viagem e, logo depois das festas, Gustavo partiu para a cidade.
No primeiro ano, o jovem saiu-se muito bem. E quando voltou para casa, nas férias, os pais notaram que continuava o mesmo, responsável, cortês e muito piedoso. Porém, conforme a universidade se aproximava, as matérias iam se tornando cada vez mais difíceis. Era preciso estudar e estudar, diminuindo para isso o tempo dedicado aos atos de piedade.
Dona Giovanna, mãe de seu companheiro Eduardo, nunca deixava de convidá-lo para ir à Missa, mas ele sempre lhe respondia não ser possível naquele momento, por estar muito ocupado. Aos poucos Gustavo foi também abandonando as orações costumeiras e acabou por não mais frequentar os Sacramentos.
Ora, apesar de todo esse esforço, algumas semanas antes da prova decisiva para entrar na faculdade, suas avaliações eram ainda insuficientes. Corria o risco de não ser admitido no curso de Medicina! Muito preocupado, decidiu ir visitar a família para espairecer um pouco... Mas o fez levando uma bagagem tão pesada que o pai mal podia carregá-la: estava cheia de livros!
Depois de abraçar a mãe e a avó, alegando estar cansado da viagem, pediu licença e retirou-se ao quarto para estudar. No dia seguinte, bem cedo, dona Esmeralda bateu à sua porta, convidando-o para ir com ela à Missa, como o fazia quando era pequeno. Gustavo aceitou a contragosto.
Porém, ao entrar na antiga igrejinha e ver a luz do Sol que os vitrais filtravam, colorindo todo o ambiente, sentiu em sua alma uma grande saudade. Saudade daquele tempo em que fazia de sua visita a Jesus e a Maria o momento mais importante de seu dia. Ah! Há quanto tempo ele não recebia aquele Jesus que tanto lhe atraia desde sua mais tenra infância!
Terminada a Celebração Eucarística, o padre Nicolau veio cumprimentar dona Esmeralda e perguntou a Gustavo como seguia com os estudos.
— Não muito bem — respondeu ele — preciso recuperar umas notas para poder entrar na Universidade.
— Ora, não se preocupe — replicou o piedoso sacerdote — estude meia hora menos... e você se sairá bem!
— Como??! — perguntou-lhe o jovem perplexo.
— Sim, estude meia hora menos e empregue este tempo rezando e pedindo à Virgem Santíssima que o ajude!...
As palavras do sacerdote fizeram Gustavo cair em si. Havia constatado quão inútil era confiar nas próprias forças e dava-se conta de que nada somos sem a graça de Deus, da qual Maria é a dispenseira. Imediatamente pediu ao padre que o confessasse e fez o bom propósito de seguir aquele conselho tão salutar! Estudaria, sim, mas sempre dedicaria meia hora — ou até mais! — à oração.
O resultado não se fez esperar. Gustavo obteve notas excelentes nos exames de ingresso na Universidade e, depois de alguns anos, tornou-se um grande médico que dava sempre este conselho aos seus pacientes:

— Nunca deixem de dedicar meia hora a Deus todos os dias. Não há melhor modo de obter benefícios para o corpo e para a alma! 
Irmã Daniela Ayau Valladares,EP - Revista Arautos do Evangelho n.115. jul 2011

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