Santo, Beato ou Servo de Deus

São José de Anchieta 
Os primeiros cristãos denominavam “santo” todo e qualquer batizado, enquanto templo do Espírito Santo. Depois, começando a tributar um culto especial aos mártires, passaram a dar essa designação apenas a quem tinha morrido em defesa da fé.
Ainda durante as perseguições, os fiéis começaram a venerar também os “confessores”, ou seja, aqueles que diante das autoridades proclamaram a fé, mas, por alguma circunstância, não foram martirizados.
Surgiram depois os primeiros grandes ascetas, cuja vida de sacrifício foi considerada um gênero de martírio. E a partir do séc. V os calendários dos santos foram enriquecidos com os nomes de outras pessoas que viveram na perfeição os preceitos evangélicos, praticando as virtudes em grau heroico, de modo especial a fé, a esperança e a caridade.
Como se definia quem podia ser cultuado
No primeiro milênio da Igreja, o culto aos mártires e aos confessores era regulamentado pelas Igrejas particulares. Cabia aos bispos — individualmente ou em conjunto, por ocasião dos sínodos — autorizar um novo culto, o qual começava com a “elevação ou a transladação do corpo” do santo.
Esse ato era chamado de “canonização episcopal” ou “canonização particular”, porque envolvia apenas a Igreja local.
No século XI começou a firmar-se o princípio de que somente o Romano Pontífice tem poder para autorizar um culto público, seja para uma Igreja particular, seja para a Igreja universal. E o Papa Gregório IX fixou essa norma em 1234.
No século XIV a Santa Sé passou a autorizar a prestação de culto, limitado a determinados lugares, a alguns servos de Deus cuja causa de canonização ainda estava em andamento ou mesmo não tinha sido iniciada.
Esta concessão, orientada para a futura canonização, é a origem do que se denomina hoje beatificação. A partir do Papa Sisto IV (1483), os servos de Deus aos quais se prestava um culto limitado passaram a ser chamados de Beatos ou Bem-Aventurados.
Ficou assim estabelecida em caráter definitivo a diferença entre os títulos de Bem-Aventurado — o servo de Deus que foi beatificado — e Santo, o Beato que foi canonizado.
Diferença entre beatificação e canonização
A beatificação é, pois, uma etapa do processo de canonização, pela qual se proclama que o servo de Deus goza da felicidade eterna, ou seja, é um Beato ou Bem-Aventurado, e se autoriza que lhe seja prestado um culto limitado (a uma diocese, a um país, a uma congregação religiosa, etc.). Ela não envolve a infalibilidade pontifícia.
Já a canonização é um ato definitivo pelo qual o Sumo Pontífice decreta que o Bem-Aventurado seja inscrito no Catálogo dos Santos para ser cultuado pelos fiéis em todo o mundo.
A canonização envolve a infalibilidade pontifícia, conforme explicou o Cardeal José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, no documento “A face da Igreja se renova na continuidade”, publicado em 29 de setembro de 2205. Ela é feita, afirmou o Purpurado, “mediante um decreto, definitivo e preceptivo para toda a Igreja, comprometendo o Magistério solene do Romano Pontífice. Isto se exprime de modo inequívoco na fórmula: ‘Para honra da Santa e Indivisível Trindade (...) pela autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos santos Apóstolos Pedro e Paulo, e pela Nossa (...) declaramos e definimos’”.

Nenhuma canonização se faz sem prévias e minuciosas investigações, estudos e pesquisas sobre a vida, obras, escritos e virtudes do servo de Deus. E a Igreja exige duas provas de caráter sobrenatural, dois milagres: um para o servo de Deus ser proclamado Beato, outro para o Beato ser proclamado Santo.
Revista Arautos do Evangelho n.48 dez 2005

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